segunda-feira, 2 de maio de 2011

Por que é importante avaliar as crianças? É preciso mesmo atribuir notas? Especialistas tiram as dúvidas sobre este tema.

Foto: Dreamstime
A avaliação não é apenas um meio de dar nota ao aluno: ela também ajuda no aprendizado e detecta problemas no sistema de ensino

Seu filho vai ser avaliado. Não importa qual seja a série, a escola ou o sistema de ensino: ele receberá uma nota - nem sempre boa - por seu desempenho. Mas isso é mesmo necessário? Sim, dizem os especialistas, a avaliação é a melhor maneira de medir o rendimento do aluno. Mas ela é mais do que isso: também pode revelar ao professor se o método de ensino que ele está utilizando é eficiente.

Agora, atenção: avaliação não é igual a prova. Há muitas maneiras de ver se o conteúdo foi aprendido que não passam necessariamente pelos exames, chamadas orais e outros "cabeludos" que tanto assustam os estudantes. Alguns exemplos: atividades em sala, trabalhos em grupo e individuais, pesquisas, lição de casa. E provas, claro. 
Para que serve a avaliação?
A avaliação mede o nível de aprendizado de cada aluno e também busca identificar possíveis problemas no método de ensino. Isto quer dizer que ela não serve apenas para aprovar ou reprovar: a avaliação deve detectar as facilidades e as dificuldades de aprendizagem que possam ser acompanhadas em longo prazo. "A nota informa a família, o aluno, mas deveria informar principalmente o professor, para permitir o acompanhamento: mostrar precisamente o que o aluno sabe; o que falta saber; e, portanto, o que precisa ser ensinado", diz o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da USP. 
É por isso que o Conselho Nacional de Educação recomenda que a avaliação dos alunos seja contínua e cumulativa. Afinal, uma nota isolada nem sempre contém a informação necessária ao professor, isto é, a medida precisa de quanto o aluno realmente sabe.
Como a avaliação dever ser feita?
A forma de avaliação - prova, trabalho, atribuição de notas ou conceitos - depende muito do conteúdo trabalhado e das necessidades da classe. Por isso, cabe ao professor decidir qual o método mais adequado em cada caso. Mesmo assim, de maneira geral, o Conselho Nacional de Educação recomenda que as formas mais contínuas de avaliação (como a observação do comportamento do aluno e exercícios em classe) tenham peso maior do que resultados mais específicos, como os de provas finais. Dessa forma, mais do que promover o aluno para o próximo ano, a avaliação pode ajudar a identificar as maiores dificuldades de aprendizagem. É importante notar que a avaliação serve, também, para detectar problemas no próprio ensino: por isso, o Conselho recomenda que a família e o aluno tenham direito de discutir os resultados com os professores e gestores escolares. Assim, os próprios procedimentos de ensino e avaliação podem ser revistos de acordo com as necessidades dos alunos.
Como a nota deve ser estabelecida?
Além dos resultados de provas e testes, o professor pode levar em conta outros fatores para estabelecer a nota, como o comportamento e a participação em sala, o desempenho em atividades em grupo, em exercícios e lições de casa, entre outros. Para Maria Teresa de Oliveira Lima, coordenadora das séries finais do Ensino Fundamental do Colégio São Domingos, a avaliação não deve ser apenas o momento da prova, mas um processo: "Ela inclui o trabalho com diferentes competências, procedimentos, conteúdos. Ela ocorre cotidianamente no olhar apurado dos professores e colegas, nas devolutivas dadas, nas revisões feitas pelos próprios alunos e também inclui momentos específicos, de sistematização das aprendizagens: avaliações que exigem uma disciplina de estudos, organização e tempo de concentração. Em relação aos critérios, também são muitos, desde apresentação estética, respeito aos prazos, passando pelo uso adequado dos conceitos, dos termos específicos da disciplina até a produção de textos coesos, completos e coerentes". 
Em geral, o resultado de todos estes fatores é resumido num sistema de classificação: algumas escolas usam notas de 0 a 10, outras utilizam os conceitos A, B, C, D e E, ou outros sistemas. O princípio de todos é o mesmo, ou seja, registrar o desempenho do aluno. A principal diferença é que, em geral, uma nota de 0 a 10 é baseada no rendimento objetivo do aluno em provas e testes. Já os conceitos (A, B, C, D e E) tendem a considerar também fatores mais subjetivos, que dificilmente são medidos em números, como o comportamento e a dedicação do aluno. No colégio São Domingos, por exemplo, o conceito A significa que, além de ter atingido os objetivos propostos, o aluno destacou-se pelo seu comprometimento e pela qualidade de seu trabalho; já o conceito E não quer dizer apenas que o rendimento do aluno foi baixo, mas também que ele pode estar num momento de rejeição ao trabalho escolar, indicando a necessidade de diálogo entre pais, professor e coordenação.
A partir de que idade a criança deve começar a ser avaliada?
"Este processo deve começar a partir do momento em que a criança entra no ambiente de formação", diz a professora Nadia Aparecida de Souza, coordenadora do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Isto não significa que o aluno já deva ser cobrado no Ensino Infantil da mesma forma que será quando for mais velho, e sim que as dificuldades de aprendizagem já devem começar a ser percebidas desde cedo. "Existe uma grande confusão quando dizem que submeter uma criança a um teste seja avaliação. Avaliação é todo procedimento que o professor implementa para perceber as facilidades e dificuldades enfrentadas pela criança na apropriação do saber e no seu desenvolvimento. Percebendo um problema, o educador o analisa e toma medidas que levem à superação desse problema. Não importa se é criança, jovem ou adulto: as dificuldades têm que ser superadas", completa a professora.
A avaliação pode gerar competitividade entre as crianças?
O início dos processos pode levar à competitividade porque gera um processo classificatório, que envolve mérito expresso em notas e elogios. "Existe um ranking no qual alguns estão no topo e outros estão na base. É uma preparação para a sociedade, que nos diz que alguns merecem o topo e outros não. Essa noção existe nas pessoas, estabelecendo um ambiente competitivo desde tenra idade", diz a professora Nadia Aparecida de Souza, coordenadora do Programa de Mestrado em Educação da UEL. 
Para lidar com este tipo de situação em sala de aula, o próprio educador deve ter em mente que todos os seus alunos podem aprender e que não cabe a ele dizer se um aluno é bom ou ruim, e sim fazer com que cada um atinja o seu melhor. "O professor deve ser um exemplo de respeito para todos: se ele trata melhor o aluno que responde melhor a ele, já começou a discriminação", explica a professora Nadia. "Para construir um ambiente não competitivo, o professor pode investir em trabalhos em grupo, em atividades de engajamento social, na convivência com realidades diferentes, com outras escolas. Estas trocas são importantes".
Quais as diferenças entre os processos de avaliação nas diversas séries?
As formas de avaliação devem sempre ser adequadas à faixa etária e às características de desenvolvimento do aluno. Na Educação Infantil, por exemplo, como as crianças estão em fase de alfabetização, devem ser avaliadas com um olhar muito específico: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional recomenda que, neste período, a avaliação seja feita por acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança, "sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental". 
Já no Ensino Médio, é natural que sejam cobrados de forma mais objetiva os conteúdos que serão abordados nas provas do vestibular, mas as formas de avaliação não devem deixar de fora habilidades que serão tão ou mais importantes para o aluno na vida adulta, como o trabalho em equipe. 
Em todas as séries, é importante que a avaliação não seja simplesmente um meio de demonstrar à família o conteúdo que foi dado, e sim uma garantia do aprendizado que está sendo construído. "Tenho de mostrar a evolução do aluno, independente da expectativa do pai. Só posso dimensionar qualquer resultado quando vejo a evolução", diz a professora Nadia Aparecida de Souza, coordenadora do Programa de Mestrado em Educação da UEL. Afinal, a aprendizagem propriamente dita é diferente da simples retenção do conhecimento: em qualquer série, a tarefa proposta pelo professor não deve verificar se o aluno sabe reproduzir o que foi ensinado, e sim verificar o que ele realmente aprendeu. "Por isso é preciso pensar em novas estratégias avaliativas; a prova pode fazer parte, ela não é ruim por si. Ruim é o uso que se faz dela", completa a professora.
Um teste pode ajudar no processo de aprendizagem?
Sim! Uma prova pode até servir para ajudar a fixar o conteúdo: em janeiro de 2011, a revista norteamericanaScience publicou um estudo demonstrando que o aprendizado é maior para alunos que respondem a questões sobre a matéria estudada. Esta conclusão foi baseada numa pesquisa realizada com duzentos alunos, divididos em grupos, cada um com um método de estudo diferente: alguns faziam uma prova; outros apenas liam o conteúdo; outros, ainda, elaboravam resumos e diagramas. Ao final do estudo, foi constatado que os alunos que respondiam questões retinham cerca de 50% mais informações do que os demais.
Por que é importante que os pais acompanhem o boletim escolar?
Os pais devem estar sempre atentos às dificuldades de aprendizagem dos filhos, para garantir que elas sejam abordadas com profundidade pelo professor e, assim, superadas. Ao acompanhar o boletim ao longo do tempo, é possível perceber, para cada matéria, se houve evolução ou se a dificuldade se manteve: neste caso, os pais podem procurar aulas de reforço (de preferência dentro da própria escola), além de acompanhar com mais atenção o estudo do aluno em casa. 
Pode acontecer também que os pais vejam o esforço dos filhos em casa, mas que esta dedicação não se manifeste em notas melhores: neste caso, é importante falar com o professor para saber que métodos de avaliação estão sendo utilizados e perceber se o aluno tem outras dificuldades em sala, como problemas de comportamento ou nervosismo na hora das provas. A parceria e o diálogo entre família, alunos e professores é sempre importante, como destaca Maria Teresa de Oliveira Lima, coordenadora das séries finais do Ensino Fundamental do Colégio São Domingos: "Acreditamos que esses encontros não só compõem o processo de discussão de estratégias individuais, mas são fundamentais para a reflexão coletiva. A troca de experiências permite que tracemos juntos novas estratégias de ação que possibilitem que as aprendizagens caminhem".
E para que servem os sistemas nacionais de avaliação?
Alguns testes são aplicados a escolas do Brasil inteiro, para que o Governo Federal possa avaliar o rendimento escolar de todos os alunos do país, definindo prioridades e caminhos para a melhoria da qualidade do ensino. Os resultados destas avaliações devem servir de base para direcionar as práticas de cada escola, saber o que está funcionando e o que tem que melhorar. Mas a maior parte destas provas aborda uma parcela restrita do que é ensinado em sala de aula; por isso, serve como referência, mas não substitui o projeto pedagógico da escola. 
Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): realizado em todo o Brasil, este exame avalia os alunos que estão concluindo ou já concluíram o Ensino Médio. Ele não é obrigatório, mas hoje é utilizado como forma de seleção para muitas universidades brasileiras, sozinho ou combinado ao vestibular da própria instituição. Podem participar alunos e ex-alunos de todas as escolas de Ensino Médio, públicas ou particulares. A prova tem questões de múltipla escolha e uma redação, e avalia competências como o domínio da linguagem, a construção de uma boa argumentação, a interpretação e resolução de problemas. 
Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica): é aplicado a cada dois anos entre alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio. A participação de escolas públicas e privadas é voluntária - as escolas participantes são escolhidas por sorteio - e consiste na realização de testes de Língua Portuguesa e Matemática, além de questionários com informações sobre o contexto cultural, social e econômico dos alunos. A partir das informações deste teste é que as Secretarias de Educação podem avaliar se suas políticas são eficazes e, se necessário, reformulá-las. 
Prova Brasil: é aplicada pelo MEC aos alunos do 5º e 9º anos do Ensino Fundamental da rede pública e urbana. A participação também é voluntária; a adesão ao teste é feita pelas Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Assim como o Saeb, a Prova Brasil aborda conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática. As notas de cada escola neste teste servem de base para o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
O que fazer quando as notas são baixas?
Quando o aluno erra, está manifestando uma dificuldade de aprendizagem. A nota baixa deve ser vista como uma oportunidade de ajudá-lo a entender seu erro e superá-lo. Para isso, tanto os pais quanto a própria família devem se envolver na aprendizagem, buscando não apenas que o aluno tenha um bom desempenho, traduzido em notas e elogios, mas que ele efetivamente aprenda. 
A avaliação é uma parte deste processo, que ajuda a identificar o que ainda não foi aprendido. É por isso que a professora Nadia Aparecida de Souza, coordenadora do Programa de Mestrado em Educação da UEL, diferencia a avaliação formativa - aquela que busca identificar as dificuldades do aluno e ajudá-lo a superá-las - da avaliação classificatória, que organiza os alunos segundo rótulos e notas. "O grande problema é que grande parte dos professores não sabe executar a avaliação formativa, ou seja, não sabe se valer da maior riqueza que o aluno fornece: as dificuldades de aprendizagem, manifestas nos seus erros", diz a professora. "Toda vez que o aluno erra, é por um bom motivo. Se o professor não entender qual é esse motivo, não vai conseguir ajudar o aluno".
educarparacrescer.abril.com.br

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