Atualmente é comum associarmos a cor azul a meninos, e a cor rosa às meninas. Já no nascimento dos filhos, muitos pais preparam o enxoval do bebê tendo por base essas cores, conforme o sexo da criança. Há também o senso comum que diz que o verde e o amarelo são cores neutras, que podem ser usadas por ambos os sexos.
Mas você já se perguntou de onde surgiu essa associação de cores? Aliás, você sabia que nem sempre foi assim? Que já houve época em que o rosa era para meninos, e o azul para meninas?
Na verdade, o que hoje consideramos "normal" é fruto apenas de uma convenção criada no início do século 20 e que, pasmem, pode ter começado de forma contrária ao que temos hoje.
De fato, segundo o site "Gender Specific Colors", parece que a associação de cor a determinado sexo é uma tendência do mundo da moda que só começou no início do século 20 nos países ocidentais, tornando-se uma questão cultural, sem se saber muito bem o motivo.
O que se sabe é que, no início, a cor rosa, por ser considerada um tipo de vermelho claro, era associada com a força e a dramaticidade dessa cor (vermelho), o que claramente influenciou sua indicação para ser usada em meninos. Um jornal norte-americano, em 1914, aconselhava as mães: "Se você gosta de adotar cores nas roupas das crianças, use rosa para o menino e azul para a menina" [The Sunday Sentinal, March 29, 1914].
Veja essa outra dica, publicada em 1918: "Tem havido uma grande diversidade de opinião sobre o assunto, mas a regra geralmente aceita é usar rosa para o menino e azul para a menina. A razão é que, sendo o rosa uma cor mais forte, que denota pessoas decididas e com coragem, ela é mais adequada para o menino, enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina" [Ladies Home Journal, junho de 1918]
Mas parece que assim que as cores começaram a ser usadas como um identificador de gênero, começou também uma tendência a inverter essa associação de cores, até chegar ao que hoje consideramos "normal".
De acordo com Jo B. Paoletti e Carol Kregloh, no artigo "The Children's Department", publicado no livro "Men and Women: Dressing the Partem Kidwell" (Claudia Brush e Valerie Steele, Smithsonian Institution Press, 1989), nos Estados Unidos, a convenção de rosa para as meninas e azul para os meninos não era unanimidade até a década de 1950. A análise de quadros e fotos antigas mostra que não havia uma forte associação entre um sexo a uma dessas cores.
Diversas hipóteses tentam explicar o início da associação de cores ao sexo. Eis algumas delas.
O primeiro uniforme escolar observado na Inglaterra data do século XVI, composto de casacos azuis usados por meninos pobres em escolas mantidas por instituições religiosas, o que acabou estabelecendo uma convenção. Eram dessa cor porque, na época, a tintura azul era mais barata que as tinturas de outras cores.
Outra possibilidade é que houve época em que o uniforme da marinha era azul, e a moda era que todo menino queria ter uma roupa de marinheiro. Por outro lado, essa hipótese não explica a escolha da cor rosa para as meninas.
O que sabe é que durante séculos os europeus vestiam os meninos e as meninas com um mesmo estilo de vestimenta. Roupas com estilos específicos, conforme o sexo das crianças, só começou a surgir no final do século XVIII, conforme se pode observar em quadros de pintura que retratam crianças. Conta-se que, na análise desses quadros antigos, é possível observar que entre os diversos povos não havia uma convenção aceita referente a estilos ou cores específicos para meninos e meninas.
Mas, naquela época, o intercambio cultural entre os povos não era tão rápido quanto hoje em dia, que conta com a televisão, cinema e internet. Por isso mesmo, a moda não era tão massificada quanto hoje.
A artista sul-coreana JeongMee (1969) criou o projeto "The Pink and Blue Project" como tema para a sua tese. O projeto Rosa e Azul é uma reflexão sobre a relação entre gênero e consumismo. Ou seja, um trabalho sobre a ligação entre o ser do sexo feminino ou ser do masculino e a preferência pela compra de objetos rosa ou azul, respectivamente.
A grande responsável pela escolha é a sua filha de cinco anos "Gosta tanto de rosa que apenas quer vestir e brincar com objetos dessa cor", afirma a mãe.
Mas JeongMee descobriu que não é a única. Nos Estados Unidos, na Coréia do Sul e noutros países, a maioria das crianças do sexo feminino adora tudo o que seja cor-de-rosa: roupas, acessórios e brinquedos. Segundo ela, nem mesmo o caso de pertencer a grupos sociais ou étnicos diferentes, com padrões e bases culturais distintas, altera essa tendência.
Nos dias de hoje, com a publicidade cada vez mais influente, essas cores impuseram-se como mundialmente padronizadas. É essa padronização que a máquina de JeongMee tenta captar. Talvez as populares e universais "Barbie" e "Hello Kitty" tenham contribuído para desenvolver essa tendência: as meninas interiorizam de forma consciente ou inconsciente que para ser ou parecer femininas devem usar rosa.
Acrescenta ainda que as diferenças entre esses objetos afeta o pensamento das crianças e o seu comportamento perante os seus pares. Por exemplo, os livros ou brinquedos para elas são normalmente rosa, roxos ou vermelhos e estão relacionados com maquiagem, moda, receitas ou tarefas domésticas. Já para eles, são de diferentes tons de azul e falam sobre robôs, indústria, ciência e dinossauros.
Fonte: Portal da Família em 25/03/2011