quinta-feira, 3 de março de 2011

14 de Março Dia Nacional da Poesia

A Voz

Pedra com sono
Pedra que jaz (ia)
Exposta a Sol e Lua
frio e calor
Paciente... Insignificante...
Desperta-se em fissuras
Despertar-se-ia a ti mesma
Expõe a todos as tuas entranhas
Esfacela-se em duas, três, quatro,...
Abrupto, pujante, rude e feio é teu meio
Meio pedra, meio seixo, meio areia, meio lasca
Mas...
Talvez...
Outra vez...
Pedra sereis!
E a voz de Pedra?
Voz que não fala
Vós que não falais
Voz que não vive
Voz que não cala
Voz de preta pedra
Voz de Pedra
Pedra que agora fala:
- Vox Petra!

Roberto Solon de Vasconcelos
29 de abril de 2010 – 09h00


A casa
Vinicius de Moraes

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos
Número zero

Para ouvir, clique abaixo:



A galinha d' Angola
Vinicius de Moraes / Toquinho

Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola


Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto
Que parece que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca


Tou fraca! Tou fraca! 
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!


Coitada, coitadinha
Da galinha-d'Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola


Come tanto
Até ter dor de barriga
Ela é uma bagunceira
De uma figa
Quando choca, cocoroca
Come milho e come caca
E vive reclamando
Que está fraca


Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!


Aquarela
Vinicius de Moraes / Toquinho / Guido Morra / Maurizio Fabrizio

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu


Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar


Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está


E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá


Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá



Canção da noite
Vinicius de Moraes / Paulo Tapajós

Dorme 
Que estou a teu lado
Dorme sem cuidado
Nã nã nã nã nã


Dorme
Oh, meu anjo lindo
Vai calma dormindo
Nã nã nã nã nã


Sonha 
Com noites de lua
Que minh'alma é tua
Quem vela sou eu!


Dorme 
Com riso na boca
Que a noite é bem pouca
Nã nã nã nã nã


Dorme 
E sonha comigo
Com teu doce amigo
Nã nã nã nã nã


  
Corujinha
Vinicius de Moraes / Toquinho

Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei quê

O seu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah, coitadinha
Que feinha que é você

Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder

Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV

Corujinha, coitadinha 
Que feinha que é você




 O peru
Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade

Glu! Glu! Glu! 
Abram alas pro peru! 


O peru foi a passeio
Pensando que era pavão
Tico-tico riu-se tanto
Que morreu de congestão

O peru dança de roda
Numa roda de carvão
Quando acaba fica tonto
De quase cair no chão

O peru se viu um dia
Nas águas do ribeirão
Foi-se olhando, foi dizendo
Que beleza de pavão

Foi dormir e teve um sonho
Logo que o sol se escondeu
Que sua cauda tinha cores
Como a desse amigo seu

Nenhum comentário:

Postar um comentário