terça-feira, 1 de março de 2011

A sociedade dos dias de hoje está com seus valores (?) morais deturpados. Isso é um fato. Somos crias de uma geração que teve um ensino tradicional, um governo militar e uma juventude onde ser um adolescente transviado era colocar uma saia mais curta ou ir contra um artigo de jornal. A droga não era tão explícita, o sexo era feito com amor e ser virgem não era vergonha. Diálogo entre pais e filhos era coisa quase impossível. Você ouvia e obedecia. E com isso também respeitava. Tento me lembrar se nessa época tantas crianças eram mortas ou  violentadas.Se tantos pais e mães eram mortos por seus filhos como aparece nos jornais. Se professores eram tão maltratados, desvalorizados e alvo de chacotas e violência pelos alunos, por alguns pais e até pelo governo. Não, não me lembro disso...Mas me lembro da minha mãe dizendo que um(a) professor(a) era como se fosse nosso pai ou mãe e que devíamos respeitá-los.

Fui alfabetizada em 03 meses, ao final sabia ler e escrever. Penso que foi tão rápido porque desde pequena folheava os gibis em casa e inventava histórias de acordo com as ilustrações. Hoje sei que isso também era leitura. Lembro-me ainda do meu professor de Geografia, o Agnaldo, na cidade de Guaraí-Go, na minha quinta série. Da minha primeira professora, de nome Neuza, na escola Emanuel Pinheiro, em Rondonópolis..e da segunda professora, Luíza, tão boa para os alunos que preferia chorar em sala de aula a chamar a atenção de algum..e me lembro ainda da professora de Português da terceira série, a Ilza, nome estranho, pessoa tanto quanto, tão séria que dava medo e que descobri depois ter um coração enorme. Lembro de muitos mais e tenho todos guardados com muito carinho no meu coração. Ajudaram-me a ser quem eu sou.

Tenho 40 anos. Não muito, mas em relação aos valores morais e humanos, nessas quatro décadas muita coisa mudou. Hoje, filhos mandam nos pais, agridem e alguns até matam. Não se pode mais começar a trabalhar cedo, eu comecei com 14 anos, não morri, não roubei, nunca matei, graças a Deus.E não cresci revoltada ou traumatizada. Em casa o lema era "escreveu, não leu, o pau comeu". Se a mãe falava, era pra obedecer. Ela estava sempre certa. Nunca a respondi, gritei ou falei, não que não tivesse vontade até de vez em quando (sou normal), mas havia o respeito por ser minha mãe, por ser uma pessoa mais velha, por ter mais experiência até e ver lá no futuro o que talvez eu não estivesse enxergando no momento. Lembro também nesse interím dos meus 40 anos, das pregações por uma sociedade mais livre e que a palmada traumatizava. E hoje uma mãe na escola, e não é a primeira, disse: "Olha, professores, eduquem vocês, porque eu não dou conta..."  Certo, ela não dá conta e acredita então que o(a) professor(a) tem a responsabilidade de conseguir o que ela não consegue?

Hoje em dia e cada vez mais, professor é um pouco de cada: psicólogo, pai, mãe, amigo, palhaço na frente da sala para chamar a atenção dos alunos, um ser criativo, inovador, provocador,estudante 24 horas por dia, têm mais reuniões pedagógicas que muitos empresários por aí, insatisfeito, ganha pouco, é estressado, depressivo. Um acúmulo de funções, pressões e redundâncias que deixam o professor(a) ser tudo em sala de aula, menos SÓ PROFESSOR(A), aquele que era responsável pelo conhecimento formal, pedagógico.

Antigamente, as crianças brincavam tendo em mente:quando eu crescer, vou ser professor(a). Hoje, pouquíssimas crianças tem essa mentalidade. Até brincam de serem professores, mas quando você pergunta o que você quer ser quando crescer, vai ouvir inúmeras respostas. Meu filho de dez anos, por exemplo, me diz que quer ser roteirista de cinema (e por que eu nunca pensei nisso antes?).

Da mesma forma que não se faz um casamento brincando de "casinha", não se cria filhos sem regras, sem ensinar valores e conceitos do que é certo ou errado.Para educar, vale o princípio da "àgua mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Não podemos deixar de falar o que está errado, nem de apontar atitudes negativas e, principalmente, não podemos deixar de oportunizar aos filhos e alunos o diálogo (mesmo que em outra hora, quando estivermos mais calmos). Não é possível, ainda, relegar a educação maternal e paternal dos filhos a outros.

Sinceramente, se a coisa continua assim, quando eu crescer, também não vou querer ser professor(a). E você?


Texto escrito pela Professora Vânia Publicado originariamente no Blog Análise de Textos.

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