domingo, 13 de março de 2011

Poesias para alegrar a alma - 14 · Dia Nacional da Poesia

O último andar (Cecília Meireles)

No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
sobre o último andar.
É lá que eu quero morar.

Quando faz luz, no terraço
fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem,
para ninguém os maltratar:
no último andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:

no último andar.

MEIRELES, Cecília. O último andar. In: Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. p. 35.


Colégio (Henriqueta Lisboa)


Dois a dois
dois a dois.

E a fila
serpentina
escorrega
nas escadas
estica-se
nos corredores
projeta-se
nos pátios.

Só o rumor
Tranquilo
dos passos
ritmados.

Do assoalho
batido
como um tambor
sobe poeira
para as narinas
dóceis.

Dois a dois
dois a dois.

A fila parece um barco
elástico
movido por inúmeros
remos.

LISBOA, Henriqueta. Colégio. In: O menino poeta – obra completa. São Paulo: Peirópolis, 2008. p. 72.



O eco (Cecília Meireles)


O menino pergunta ao eco
onde é que ele se esconde.
Mas o eco só responde: “Onde? Onde?”

O menino também lhe pede:
“Eco, vem passear comigo!”

Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo.

Pois só lhe ouve dizer:
“Migo.”

MEIRELES, Cecília. O eco. In: Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. p. 93. 


Hora de dormir (Cláudio Thebas)


Na hora de dormir,
eu sou que nem a luz do quarto:
fico brincando, não canso, brincando...
A luz brilhando, no alto, brilhando...
Aí...
meu pai me chama,
me leva pra cama,
me faz um afago.
Clic,
ele apaga a luz.
E clic,
eu também apago. 

THEBAS, Cláudio. Hora de dormir. In: Amigos do peito. São Paulo: Formato, 2005. p. 28.







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